Durante algum
tempo, continuamos indo a Juquehy para surfar. Acampávamos na praia, algumas
vezes fomos acampar no rio, logo na entrada da cidade. Outras pessoas acampavam
lá também, mas era longe do local das ondas, do outro lado da praia. Decidimos,
então, procurar outro lugar para acampar. Encontramos a dona Luzia, ali perto
do canto das ondas.
Dona Luzia era uma senhora
que tinha essa casa com um grande quintal na frente. Hoje o local está tomado
por condomínios. Ela falava com sotaque diferenciado, podia ser uma variante
caiçara. Ela não falava ‘barraca’, ele falava ‘baraca’, ou melhor,
‘baraquinha’. Pagávamos a ela o uso do terreno para acampar, mas não tinha nada
além disso.
Como não tínhamos
água e nem banheiro, usávamos a ducha do chuveiro da piscina do Hotel Timão, e
o banheiro também. No final da tarde, entrávamos pelo lado do hotel e tomávamos
um banho rápido na ducha. Como, ocasionalmente, tomávamos café da manhã no
hotel, o pessoal de lá já nos conhecia e era conivente com nossos banhos. O
xixi era na água, agora o número dois, sinceramente, não me lembro. Comíamos
tão pouco naqueles dias que acho que não era uma prioridade , mas não me lembro
de ter que ir no mato ou outra coisa. Talvez fôssemos no banheiro do hotel. Mas
isso não era a nossa grande preocupação.
No quintal da dona
Luzia, os acampamentos eram animados, o problema é que tinha tanto mosquito que
não podíamos ficar fora da barraca, ou ficávamos dentro da barraca ou na praia
à noite. Morava com a dona Luzia o seu esposo Manuel e um senhor deficiente
visual. Não tinha luz na casa dela e ficávamos olhando de longe e imaginando
histórias. Outros tempos.
Após muitos fins de
semana pegando onda de bodyboard, já estávamos começando a melhorar nossa
performance e começávamos a nos inteirar com outros bodyboarders em São Paulo,
a participar da associação e saber de campeonatos.
Ahhhh, Juquehy…..
For a while, we
continued going to Juquehy to surf. We camped on the beach, sometimes we went
camping on the river, right at the entrance of the city. Other people camped
there too, but it was far away from the waves, on the other side of the beach.
So we decided to look for another place to camp. We found Dona Luzia, there
near the corner of the waves.
Dona Luzia was a
lady who had this house with a big backyard. Today the place is taken over by
condominiums. She spoke with a distinct accent, it could have been a caiçara
variant. She did not say 'tent', he said 'baraca', or rather, 'baraca'. We paid
her for the use of the land for camping, but we didn't have anything else.
As we didn't have
water or bathroom, we used the shower in the pool at Hotel Timão, and the
bathroom too. At the end of the afternoon, we would enter the side of the hotel
and take a quick shower in the shower. As we occasionally had breakfast at the
hotel, the people there already knew us and were conniving with our baths. The
pee was in the water, now number two, honestly, I don't remember. We ate so
little in those days that I don't think it was a priority, but I don't remember
having to go into the woods or anything. Maybe we went to the hotel bathroom.
But that wasn't our big concern.
In Luzia's
backyard, the camps were lively, the problem is that there were so many
mosquitoes that we couldn't stay outside the tent, or we stayed inside the tent
or on the beach at night. Her husband Manuel and a visually impaired man lived
with Luzia. There was no light in her house and we watched from afar and
imagined stories. Other times.
After many weekends
catching bodyboard waves, we were already starting to improve our performance
and we started to get to know other bodyboarders in São Paulo, to participate
in the association and to know about championships.
E numa tarde só.
Vocês acreditariam em 30? Afinal eu não contei exatamente, mas uns 30 foram.
Paúba é ao lado de
Maresias. Onda quebra-coco na areia, power bodyboard. Certa vez, numa
tempestade, eu vi um barquinho de pesca encostar lá, fugindo do alto-mar. No
dia seguinte, o barco estava todo na areia, aos pedaços.
depois de perder a
casa em maresias por causa de uma galinha, que estava deliciosa na brasa, eu me
perdi nos lugares e comecei a ir a todos. Paúba era bom para bodyboard, então
sempre que tinha onda, eu ia pra lá.
eu estava na
faculdade e tinha esse amigo, colega, o Fabrizio, que era um sujeito muito
bacana. Atarracado, gazo (nem loiro e nem moreno, como dizem na Bahia),
baixinho, surfista do Guarujá e gostava de uma xibaba, a popular marijuana.
Eu sempre falava
pra ele para irmos para Paúba , pegar uns tubos, e um dia de ondas nós fomos.
Devia ter um metro perfeito e vazio, como tudo naquela época. O Fabrizio
encaixava nos tubos sem ter que abaixar muito. e foram uns 30 para cada naquela
tarde, e depois voltamos para o Guarujá.
Como naquela época
não tinha internet, ninguém sequer imaginaria que um dia teríamos whattsapp,
portanto, a única comunicação que tínhamos era o telefone. Fixo. E cada vez que
o Fabrizio fazia um baseado, ele ligava pra mão pra saber se ela estava perto
do fixo e não o surpreenderia. Acho que quando ele ligava, a mãe pensava: ‘lá
vai ele fumar outro’….
Nesta vida, uma
longa viagem, vamos encontrando amigos e alguns deles não completam a jornada
toda. O Fabrizio foi um deles, que perdeu a vida em um acidente de carro. este
capítulo é mais para homenagear aos amigos e à vida.
50 tubes in
Paúba
And in one
afternoon. Would you believe 30? After all, I didn't count exactly, but about
30 were.
Paúba is next to
Maresias. Coconut break wave on the sand, power bodyboard. Once, in a storm, I
saw a little fishing boat dock there, fleeing the high seas. The next day, the
boat was all on the sand, in pieces.
after losing my
house in the sea because of a chicken, which was delicious on the grill, I got
lost in places and started going to them all. Paúba was good for bodyboarding,
so whenever there was a wave, I went there.
I was in college
and I had this friend, colleague, Fabrizio, who was a very nice guy. Stocky,
gazo (neither blond nor dark, as they say in Bahia), short, a surfer from
Guarujá and he liked a xibaba, the popular marijuana.
I always told him
to go to Paúba, get some tubes, and one day with waves we went. It must have
been a perfect, empty meter, like everything else back then. Fabrizio fit into
the tubes without having to go down too far. and there were about 30 each that
afternoon, and then we went back to Guarujá.
As at that time
there was no internet, no one would even imagine that one day we would have
whattsapp, so the only communication we had was the phone. Fixed. And every
time Fabrizio made a joint, he called the hand to see if she was close to the
landline and it wouldn't surprise him. I think when he called, his mother
thought: 'there he goes to smoke another one'….
In this life, a
long journey, we meet friends and some of them don't complete the journey.
Fabrizio was one of them, who lost his life in a car accident. this chapter is
more about honoring friends and life.
Ninguém, ou melhor,
poucos iam para Maresias, um pouco adiante de Juquehy. tem uma serra braba, que
devia ser um problema quando não era asfaltada e chovia, além de ondas fortes.
Eu tinha esse amigo que tinha essa casinha ali, sem água e sem luz,
praticamente uma barraca. Após esse período de Juquehy, comecei a me aventurar
na categoria que adotei até hoje: viagens solo. Quando tinha alguém para rachar
a gasolina, legal, senão eu ia sozinho mesmo. Me jogava na casa e pegava ondas
ali em frente.
Ali, eu conheci um
nativo da região, o Hamilton ‘Coxinha’, que surfava comigo. Quando tinha ondas
durante a semana, ele me ligava a cobrar. Um cara muito legal. Subíamos o morro
de Maresias em direção à praia Brava para colher bananas. Eu voltava com um
cacho, ele voltava com quatro cachos, ele amarrava pelo pendão um cacho no
outro e trazia dois em cada ombro. era a base da alimentação dele e de sua
família.
Alugamos uma
casinha de um parente dele , ali no Canto do Moreira. como sempre levávamos
algo para comer e ele sempre era convidado, certo dia ele apareceu com uma
galinha, ainda cheia de penas. Limpamos a galinha e colocamos num saquinho. no
dia seguinte , estava tudo esparramado pelo quintal, e a galinha foin
reconhecida pela dona, a tia dele. deu um bafafá e perdemos a casa.
Há alguns anos,
estive em Maresias e fui procurar o Hamilton, soube que ele tinha falecido,
vítima de câncer de pulmão. Que Deus o tenha!
Maresias
Nobody, or rather,
few, went to Maresias, a little ahead of Juquehy. there is a wild mountain
range, which must have been a problem when it was not paved and it was raining,
in addition to strong waves. I had this friend who had this little house there,
without water and electricity, practically a tent. After this period of
Juquehy, I started to venture into the category that I have adopted until
today: solo travel. When there was someone to split the gas, cool, otherwise I
would go alone. I played in the house and caught waves in front of me.
There, I met a
native of the region, Hamilton 'Coxinha', who surfed with me. When there were
waves during the week, he would call me collect. A very nice guy. We went up
Maresias hill towards Brava beach to pick bananas. I would come back with one
curl, he would come back with four curls, he would tie one curl to the other by
the tassel and bring two on each shoulder. it was the mainstay of food for him
and his family.
We rented a house
from a relative of his, there in Canto do Moreira. as we always brought
something to eat and he was always invited, one day he showed up with a
chicken, still full of feathers. We clean the chicken and put it in a bag. the
next day, everything was spread out in the yard, and the chicken was recognized
by its owner, his aunt. she gave a fuss and we lost the house.
A few years ago, I
was in Maresias and went to look for Hamilton, I learned that he had died, a
victim of lung cancer. That God has!
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